quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A deriva



Acho incrível como as coisas têm a capacidade de mudar tão rapidamente. É realmente surpreendente como em apenas 24 horas tudo de mais sólido que havíamos planejado pode se tornar pó. Acontece que tenho lá minhas dúvidas se isso é falta de experiência ou se é porque dou muita importância a meus sonhos. Acredito que não tenho muita sorte também, mas apesar disso continuo me arriscando com meus planos.
Tenho que tomar cuidado todas as manhãs para que minha mente não saia dos trilhos, toda vez após acordar fico na cama fazendo força para discernir o que é realidade do que é ficção, imaginação ou desejo, caso contrário terei grandes problemas. Mas o que acontece é que tento apresentar a realidade como se fosse algo que aceito de fato, e não é. Tento provar para mim mesmo que minha vida está sobre trilhos, mas na verdade é um barco à deriva. Já estou cansado dessa maré infernal que me dá enjôos.
Estou recomeçando uma nova etapa na minha vida. Já estou cansado de tanto recomeçar do zero, desta vez vou carregar comigo algumas lembranças da última. No entanto, quando penso estar tudo decidido percebo que meus planos são realmente como ondas, efêmeros e descontrolados.
Tudo o que sei é que vou seguir meus instintos, se não der certo vou parar de me convencer todas as manhãs e me deixar ser levado pela loucura.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

[NÃO]Sejamos Moralistas



Por esses dias li um texto com o título de "Sejamos Moralistas" não me lembro aonde, caso o ache outra vez, coloco as devidas referências no fim da postagem. Enfim, o texto me chamou atenção justamente pelo título, tenho uma certa apatia por moralistas, e depois que o li, essa apatia evoluiu para quase um asco. O texto é de caráter irônico, mas descreve verdades indiscutíveis sobre os tais moralistas. Realmente nunca entendi que vontade louca é essa de querer julgar a vida alheia em nome da moral e dos bons costumes, concordo que vivemos um caos, mas não vão ser críticas preconceituosas que vão sanar os problemas da sociedade. Digo preconceituosas pois o tal moralista não faz nada além de ter pré-conceitos sobre tudo e todos, para mim são todos egocêntricos, exaltando o seu eu como modelo a ser seguido. Por que são tão certos da sua verdade? Por que acreditam tanto que a sua tão amada moral é a verdade absoluta e inexorável a ser seguida? Estava reparando que são muitas vertentes de moralistas, mas como isso é possível se a moral é apenas uma? Existem moralistas que criticam homossexuais, e existem moralistas que criticam aqueles que criticam homossexuais, você entendeu? Nem eu. Moralistas religiosos, cada um defende seu caminho, seu deus, sua crença. E onde está a verdade, moral, bons costumes, harmonia, paz e tudo de bom que o termo Moralista anuncia? Não sei como pode haver harmonia com tantas pessoas caminhando em direções diferentes, defendendo o certo e o errado usando da mesma desculpa. Usam o pretexto de serem adeptos à moral para julgar o modo de vestir, andar, falar, os costumes, os medos, e tudo o que não se encaixa em seu falso moralismo. Existe uma maioria hipócrita no universo moralista, que talvez, nem seriam hipócritas se não tentassem ser algo que não conseguem, só para se auto denominarem mensageiros dos bons costumes. Se alguém deseja disseminar uma ideia aparentemente boa, que traga bons resultados não somente para si, mas para outros seres, que faça-o de forma justa, sem julgar, apontar, delatar, com certeza a ideia será mais facilmente aceita. Não sejamos moralistas, não sejamos hipócritas, não sejamos ditadores de uma moral duvidosa, não sejamos injustos.

link para o texto: "Sejamos Moralistas" de Mirlene Souza

Loucura mano!

Bem o vídeo abaixo dispensa qualquer comentário. Apesar de não ser a modalidade que pratico, o que esse cara faz com sua bike me deixa impressionado! É um show de técnica e controle. Já havia postado esse vídeo no meu perfil do orkut, mas agora vou deixá-lo aqui também. espero que agrade.
nota: não tentem fazer isso em casa, na rua, nas calçadas ou dentro da escola. E não, eu nem de longe faria isso rsrsr

Esclarecimento

Por favor meus amigos, não sou contra religião alguma ou satanista. Nem tenho nada contra eles. Apenas sou a favor do esclarecimento religioso e da literatura sem censura. É que existem pessoas hipócritas por aí que pensam que o homem nasceu com um chip programado apenas para um caminho religioso... Eu sei, a bíblia diz isso, mas acredito na livre escolha. Ou será que somos inferiores aos nossos celulares? Eles já são desbloqueados né?

O "evangelismo"


- Mãe, me dá um livro.
- Pra quê? Você nem gosta de ler.
- Quero passar a gostar, dizem que ler faz bem para a cabeça.
- Sabe o que faz bem a cabeça? Deus no coração. Não idéias desse povo que às vezes nem acredita em Jesus e fica colocando coisas estranhas para você ficar pensando.
- Mas mãe...
- Que foi?
- a Senhora não conheceu Deus e Jesus e toda aquela galera através de um livro? A bíblia?
- Humm...
- Qual é o problema de eu ler um livro?
- Porque você pode encontrar outros deuses lá e isso não é bom. Devemos cultuar apenas ao nosso Deus todo poderoso, o criador. Amém.
- Mãe..
- Fala.
- Se ele é o criador de tudo, ele foi criado por quem?
- Você anda lendo o quê por aí? É a internet? Pois a partir de agora o senhor está proibido de usá-la.
- O que faço para ocupar meu tempo então?
- Vou te dar um livro para ler. Criança de 12 anos não deve ficar com a mente tão poluída.
- Legal, ouvi falar de um tal de José Saramago, ele é bom, recebeu prêmios e...
- Não, você lerá a bíblia ou algum livro que fale de Deus.
- o Saramago tem um livro chamado O Evangelho segundo Jesus Cristo.
- É, esse deve ser bom, vai ler esse primeiro. E espero que aprenda algo sobre como é errado questionar a vontade divina.
- Sim mãe, espero que a leitura me salve. (risos escondidos)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ventania

Hoje me sinto mais livre que em qualquer dia de toda minha existência. Ando pelas ruas de todas as cidades e todos me cortejam quando lhes dou esse direito. Na maioria das vezes estou invisível, prefiro assim. Gosto de ser voyeur, pois posso admirar solitariamente todas as coisas bizarras que a humanidade costuma fazer, como andar em fila e buscando sua individualidade sendo cada vez mais comum. E se a solidão estiver me entediando logo dou um jeito nisso, chamo qualquer pessoa para ficar ao meu lado, neste meu universo particular.
Não tenho privações. Sou livre de verdade. As correntes morais não fazem pressão sobre mim. Canto como quero, falo como quero e na língua que desejo. Se este planeta me incomoda vou para outro. Saboreio as mais estranhas variedades de comida, todas com alto grau de pureza. Tenho uns problemas para resolver, pois problemas são necessários para se levar a vida. Mas essa vida eu levo ao meu jeito. Sem hora para dormir ou para acordar, sem gravidade para me puxar e sem rumo certo. Por horas posso ficar rodando e vejo as coisas passando como se fossem na janela de um carro de corrida. Imagino-me um pássaro, sobrevôo as nuvens.
Quando estou cansado deito-me no chão e olho para o céu, logo estarei em um deserto, em um oásis e mil virgens estarão ao meu lado fazendo companhia. Serei carregado para meu palácio de cristal onde meus servos, todos feitos de algodão me trarão tudo que preciso. Dormirei e assim sonharei com uma realidade diferente. Lá pessoas me farão perguntas, serei o centro de suas vidas, mas nesse sonho sentirei algumas dores e logo será um pesadelo. Acordarei toda vez que isso acontecer e novamente estarei no meu castelo.
Agora estarei em um campo verde e as formigas estarão comigo. Jogarei batalha naval com os peixes em um lago pequeno que logo transformarei em oceano. Pessoas de todos os tempos virão me visitar, desde políticos importantes a antigos reis poderosos. Prefiro os reis. Eles têm histórias muito mais interessantes para contar. Simulo com eles batalhas épicas e eles sempre voltam para me visitar.
Existe um mundo em miniatura embaixo de nossos pés, em cada molécula, cada átomo é um universo diferente. É ignorância humana pensar que está só neste cosmos. Eu, que estou livre, posso viajar para qualquer lugar, costumo voar nas costas de uma borboleta todas as manhãs e deitar-me com as fadas após suas festas maravilhosas.
Aqui não tenho privações, exceto quando o pesadelo volta e as perguntas e aqueles mosquitos gigantes que jogam veneno em meu sangue vem me irritar. Peço socorro, mas eles estão todos loucos, dizem que me ajudam, mas só me tiram do paraíso.

Confissão

Fui informado que o meu último post era um plágio ( Chat avec le psiquê ). Plagiei inconscientemente o filme 'Ilha do Medo' do Scorcese. Sinto muito por isso já que nesse mundo tudo se cria do nada e eu cometi essa falha de não lembrar que essa história que vinha em minha cabeça se embasava exatamente em outra que havia assistido a algum tempo. É claro que meus milhões de leitores pelo mundo (sic) iriam ficar revoltados então escrevo essa confissão. Peço para que me julguem da forma mais cruel o possível, pois nunca, jamais alguém cometeu algo tão cruel.

Chat avec le psique


- Bom dia Leandro.
- Bom dia doutor
- Leandro, você se lembra o porquê de estar aqui hoje?
- Seria por algo que comi?
- Pare com isso, você lembra onde está a sua família?
- Pelo que me lembro foram tirar férias, mas não sei ao certo onde...
- Quando foi a ultima vez que os viu?
- Ontem mesmo, minha mãe estava cuidando do cabelo de minha irmã.
- Lembra de mais alguma coisa?
- Só que eles não estavam muito satisfeitos, mas por que você está me perguntando essas coisas?
- Por que você não está colaborando comigo.
- Então quer que eu colabore como?
- Apenas me diga o que tem feito nesses últimos dias.
- Tenho feito coisas normais, ido dar minhas aulas, tenho pedalado pouco nos últimos dias, mas tenho jogado muito xadrez com um amigo.
- Quem é esse seu amigo?
- O Carlos, ele é um cara legal... Tem uma loja legal...
- Leandro, tenho que ser sincero com você, você deve saber o motivo que o traz aqui hoje e todos esses dias.
- Qual é então?
- Sua família morreu há cinco anos, ninguém sabe o que aconteceu, te encontraram junto a seus corpos mutilados, aparentemente você estava em choque. Tudo o que queremos é saber o que aconteceu. Aqui é um hospital psiquiátrico, você não tem contato com ninguém exceto comigo há 2 anos, desde quando passou a ser violento.
- Sério mesmo?
- Sim, você tem imaginado tudo... Criado uma outra realidade com personagens e tudo mais. Ninguém conhece a sua família, ninguém realmente sabe de onde veio, porque estão todos mortos, você não tem amigos. Sua mente está doente.
- Se minha família morreu, por que falo com eles todos os dias? Se não tenho amigos com quem jogo xadrez sempre? Se estou preso em um hospício por que saio pelas trilha a pedalar de vez em quando?
- Tudo isso é fruto da sua imaginação limitada à ilusão.
- Se isso tudo é fruto da minha mente “doente”, você também pode ser, assim como todas as outras personagens. Posso simplesmente acordar e voltar à outra realidade.
- Leandro você não está evoluindo no nosso tratamento.
- Não evoluo por quê? Minha mente é livre e você tem inveja, pois vive preso a uma realidade apenas e diz que a minha mente que é limitada.
- Não é isso, você tem que aceitar que sua família está morta e que...
- Mortos para quem? Aquilo só foi um pesadelo, assim como esse.
- Leandro, vamos ter que fazer um tratamento que...
- Então faça logo, já não me importo... Essa conversa nunca existiu mesmo.
- Existiu sim Leandro, aceite a realidade.
- Aceito a realidade que prefiro, me leve de volta o Carlos está me esperando.

"Diálogo"

- Ei, gosto de ti
- Eu também gosto de ti
- Mentira, se tu gostasses de mim saberias que estás a magoar-me todas as vezes que sais com aquele gajo.
- Desculpe-me, mas aquele gajo é meu namorado, saio com ele sempre e ...
- Dissestes que gostas de mim, não me amas?
- Gosto, amar-te já seria demais.
- Mas sabes que sou assim, se falo que gosto é porque amo e se amo quero ter-te como minha namorada.
- Olhe aqui, sou livre, não amo pessoa alguma, apenas as tenho por perto, pois preciso delas. Deixe de ser idiota e passe a ser inteligente.
- Então não amas nem a teu namorado?
- Por que deveria amá-lo, ele atende a minhas necessidades, me acompanha e age comigo de forma a me fazer bem... isso já é o suficiente. Não desejo casar-me com ele, apenas o usarei enquanto me for agradável.
- Tu deverias envergonhar-te.
- Por que motivo?
- Ele te amava.
- Amava?
- Sim, mas agora ele não tem mais coração para isso... Inclusive tinha gosto de frango.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Barbeiro"

O barbeiro Antônio que morava perto da minha casa era conhecido em toda a cidade como o melhor barbeiro da região. Pessoas vinham de todas as cidades vizinhas só para prestigiar seu talento com a navalha. Ele teve uma esposa muito amável que deu a ele três filhas lindas. Infelizmente o barbeiro Antônio teve que criar sozinho suas filhas, já que sua esposa havia falecido por conta de uma inflamação cutânea mal tratada, que também vitimou um vizinho meses antes.
Extremamente religioso Antônio ia sempre à missa de domingo e fazia questão de levar suas filhas junto a ele. Era lá na igreja que o “Tonho”, como era conhecido pelos amigos mais próximos encontrava pessoas diferentes e fazia novas amizades. Coisa rara, já que  era muito fechado e procurava zelar por sua personalidade discreta. Estava quase sempre com o mesmo terno azul marinho, que sua esposa havia lhe dado de presente meses antes de morrer. Cuidava daquele terno como nada na vida, a não ser sua navalha, ferramenta de trabalho. Sempre que o traje se apresentava um pouco descorado ia ao armarinho comprar corante no mesmo tom e tratava de recolorir a peça.
Este presente que tanto cuidava e fazia questão de exibi-lo ao público foi comprado na loja de seu vizinho, o falecido. Sua esposa o havia encomendado e sempre que podia passava na loja para verificar se estava pronto, era muito perfeccionista. Foram cinco meses para a entrega do presente, que não se sabe de quê, já que não era nem aniversário do barbeiro ou qualquer outra data festiva quando foi entregue. Antônio dizia que se tratava da boa fé de sua amada, que tanto o amava a ponto de não haver motivos para presenteá-lo.
Não me lembro muito de sua esposa, eu era muito novo quando ela morreu, mas lembro que era muito religiosa. Apesar disso não freqüentava tanto a igreja quanto seu marido, mas estava sempre rezando. No seu velório as pessoas falavam muito, mas pouco me lembro dos motivos, sei apenas que Antônio não chorava. Ele devia estar conformado com sua fé, já que parecia estar rezando o tempo todo, falando baixinho.
Há cerca de um ano chegou a nossa cidade um circo, o fantástico circo imperial japonês. Foi uma febre, todos iam menos eu. Todas as tardes quando não tinha muito o que fazer e ia jogar conversa fora na barbearia, lá eu ficava sabendo do que acontecia no circo e matava minha curiosidade. Lá também fiquei sabendo do flerte que mudara a vida de Antônio para sempre, pois não era só o circo que viera a nossa cidade naquele tempo.
Lídia chegou na cidade não se sabe de onde, conheceu Antônio na saída da missa de domingo. Chovia muito e por isso o barbeiro lhe deu uma carona até o hotel onde se hospedara. No caminho sua filha menor, um ano mais nova que a do meio e dois que a mais velha, um anjo, a chamou para almoçar com a família. Naquela saia justa causada pela filha o pai não via outra situação se não reforçar o convite. Depois deste vieram outros poucos antes de assumirem o noivado e se casarem rapidamente. Quatro meses depois. Muito se falava sobre isso, mas na época não me preocupava tanto, preferia assuntos sobre bicicletas, dão muito menos trabalho que as mulheres e se nos derrubam as cicatrizes ficam legais para serem exibidas.
Pouco antes de casar, muita coisa já havia mudado na vida de Antônio. Sua barbearia evoluíra completamente, sua aparência seguiu o mesmo caminho. A agora “tony’s barbershop” era referência na região. Até o comércio próximo evoluiu seguindo a tendência e assim todos ganharam. Mesmo quando a concorrência não é pela clientela ela se faz pela atenção. Aquela rua se transformou, a cidade teve que acompanhar e até a administração pública teve que dar seus pulos para acompanhar o progresso.
Mas uma coisa não mudou, seu Antônio continuava usando a mesma navalha de sempre, quanto a isso Lídia não interferira, se preocupava mais em faturamentos e investimentos. Ela dava tanta atenção aos novos clientes que logo era mais popular que seu marido. Já havia até conseguido liberar as três meninas para namorar. E isso aconteceu rápido. Rápido também vieram os problemas, pois agora era muita gente para Antônio barbear. Trabalhava muito, tanto que domingo já não tinha mais ânimo de ir à igreja. Sua navalha começava a reclamar de tanto trabalho e passou a ferí-lo. sede.
Para ajudá-lo Lídia chamou para trabalhar na barbearia um jovem conhecido seu que morava na região, viera logo, mas não adiantou muito, não tinha talento. Antônio devia ensinar tudo a ele, que não saia de sua casa. Acabou mudando-se para lá, a casa ficava atrás da barbearia. Sua nova esposa o tratava como se fosse da família.
Aos domingos as meninas passaram a ir à lagoa da cidade, acompanhadas por seus namorados e sob supervisão de seu pai. Mas o velho Antônio já não agüentava o ritmo imposto por suas filhas e deixou-as sob os cuidados da madrasta. E isso é tudo o que eu fiquei sabendo pela filha mais nova, um primor de garota. Ela disse que o jovem ajudante do pai passou a freqüentar a lagoa aos domingos com a família.
Um dia fui ao “tony’s barber shop”, minha barbicha precisava de reparos, mas não me sentia muito confortável. Seu Antônio não estava com a mesma energia de antes. Tentei puxar assunto várias vezes, mas ele não dava seqüência às minhas frases. Então ele me propôs que eu acompanhasse sua filha mais nova, uma princesa, em uma viagem. Fiquei surpreso, não havia precedente para aquilo e também não entendia o motivo, já que ela tinha um namorado, mais velho, bem mais velho, e além de tudo aparentemente bem de vida, um ótimo partido. Já eu, pobre, magro, ciclista, e feio não tinha predicados consideráveis para aceitar aquela proposta. Mas aceitei. É claro se fosse de acordo com o desejo da filha dele, um desejo.
A encontrei no local, data e hora marcada por Tonho. Ela chorava muito, eu não entendia nada, fui fazer a barbicha e ganhei uma viajem de fim de semana com acompanhante, chorosa, mas era linda assim mesmo. No ônibus me perguntou se eu aceitaria ir com ela para onde fosse para fazer o que quer que fosse. O papo ficou bom. Disse que sim, então ela pediu para descer do ônibus e voltou para casa. E eu atrás. Já era noite. As luzes apagadas. Pediu para que eu não fizesse barulho e me deixou esperando na sala escura. Disse que não queria acordar a família. Eu aceitei.
Sentei-me no sofá. Não via muita coisa a minha frente ou em qualquer direção, apenas brilhos na penumbra. Pouco tempo depois  ouvi passos, falas confusas, gritos sufocados e silêncio. Pensei em ir atrás dos sons, saber o que estava acontecendo, hesitei por algum tempo. Comecei a sentir um frio estranho, meus olhos já se acostumavam com a escuridão, mas mesmo assim não via nada. Tive medo do que podia estar acontecendo e resolvi fazer algo. Agachei-me e pequei um objeto que estava sobre a mesinha da sala. Não segui meus instintos. Queria ter saído daquela casa, mas algo me levava cada vez mais para dentro, parecia que um campo magnético me sugava. Fui tateando as paredes. Abri uma porta pesada de madeira, devia ser bonita, pois senti seus detalhes bem esculpidos. Sobre a cama do casal havia dois corpos nus. Ainda se sentia o cheiro sensual de depravação libidinosa, mas aquele silêncio e frieza gerada pela paralisia dos cadáveres expunham-me a um enjôo eminente. A navalha matara sua sede. Ou não. O quarto ao lado estava vazio, todos estavam reunidos no quarto da filha do meio último do corredor. O pai e as três filhas.
O choro era silencioso convergia à escuridão do lugar. Um pai desgraçado, destroçado e sujo de sangue. Suas filhas se encaravam como em uma despedia. Seu pai, que ignorava minha presença, assim como as outras, confessara sua vingança. Agora a navalha, que se somava a seu braço como a caneta à imaginação do poeta, beberia seu próprio sangue, suas filhas. Primeiro a mais velha, essa era alta, e por isso difícil segurá-la enquanto se debatia como os frangos que via ainda criança ao perderem suas cabeças, mas nesse caso ela seria sacrificada e eu não sabia o porquê. Esvaindo-se em sangue foi sufocada e aos poucos perdendo a força. A do meio ainda estava nua, participou ativa e passivamente da orgia de sua madrasta, essa era mesmo filha de sua mãe, disse o pai antes de atingir sua jugular com sua ferramenta e companheira. Essa chorava, mas não se debateu tanto. Não sei se estava bem amarrada ou o ódio de seu pai a vitimou num instante. Então nesse momento falou com sua filha mais nova, sua flor de lótus. Disse a ela que era pai apenas de uma linda fada. Eu assistia a tudo aquilo com sentimento, mas o frio que sentia me deixava como uma pedra, não entendia nada. Era como se fosse um filme, cinema alemão, mas menos real.
Ela sabia de toda a verdade. Ele levantou a navalha. Ela viu sua mãe morrer. Ele estava ajoelhado a sua frente. Ela o odiava por ser órfã. Ele chorava, mas estava decidido. Ela teceu aquela tragédia. Ele entendia tudo agora. Ela o olhava com desprezo. Ele deu de beber à navalha com seu sangue a última vez. Ela olhou para mim.
Seu pai era alfaiate, ela sabia de toda a história. Desde criança sabia que os fatos a ela apresentados não eram os mesmos que testemunhara em segredo. Com um pouco de influência muda-se o curso da verdade assim como se fosse um rio. Tramou em segredo toda aquela situação, jovem prodígio na arte de tramar. Conhecia seus personagens como peças de xadrez. Jogava com eles visando sua vingança.
Agora eu conhecia a verdade, queria fugir, seu olhar era frio, suas mãos lentas. Apanhou a navalha com lentidão, aproveitava-se de cada segundo. Degustava-os como uma taça de vinho. Sentia um frio no estomago, como se estivesse apaixonado e diante de mim minha musa platônica. E estava. Ela me beijou. Aceitei o destino imposto naquele presente momento. Estava paralisado. Deu de beber à navalha uma vez mais.
30-03-2010

domingo, 2 de janeiro de 2011

Convite para uma viagem muito louca

Olá,
Estou a convidar amigos ciclistas ou não para uma viagem muito louca no carnaval. Para aqueles que não querem ficar ouvindo aquelas mesmas músicas, vendo sempre as mesmas coisas na tevê e preferem curtir algo mais saudável, tendo contato com a natureza, ofereço uma carona em um sonho que nutro desde a primeira vez que fui a São Jorge, Alto Paraíso - GO. Espero iniciar com meus colegas de equipe e outros que pedalam comigo no dia 05 de março, sábado, às 06:00 o caminho para São Jorge de bike. Serão quase 200 km de ida, aproximadamente 8 horas de pedalas e um visual recompensador. Para aqueles que são menos interessados em sofrimento convido para que embarquem na nossa viagem com seus carros, motos, cavalos ou qualquer meio de transporte que tenham a disposição. Se possível gostaria que acompanhassem o pelotão parando em pontos estratégicos, para nos fornecer água e outras bebidas necessárias. Estou programando a volta para o dia 08 de março, terça-feira. espero o apoio de vocês. Por favor comentem ou mandem e-mails. ;)

Obrigado!

bye bye 2010

Hoje, dia 02 de janeiro de 2011, acordei às 11:30 com vontade de escrever aqui no blog. Na verdade já faz um tempo que tenho vontade de escrever, mas não o fiz. Não faltaram motivos para que eu escrevesse, o mês de dezembro para mim foi recheado de surpresas, emoções, descobertas... Enfim, muito material para postar aqui no blog, mas não escrevi nada porque não seria substancial, eu não estava suficientemente substancial.
Sofro de uma espécie de trauma de fim de ano, uma angústia misteriosa aparece a partir do meio de novembro e me acompanha até o réveillon. Não sei explicar isso muito bem, mas é muito intenso. Nesse ano, como em todos os outros sofri deste mal, no entanto tive vários momentos e razoes para esquecê-lo, ou pelo menos suportá-lo... Como eu disse, o último mês do ano 2010 foi incrível.
Ano passado, no princípio, havia me decidido a ser vagabundo, trabalhar pouco... Não pude. Depois de uma ilusão profissional no ano 2009 pensei que poderia viver de maneira diferente. Na verdade consegui mudar meu referente. Mas tudo mudou mesmo no dia 18 de março de 2010, nesta ocasião pela primeira vez entrei no colégio onde atualmente trabalho. Não posso dizer que foi bom no começo, mas depois de um tempo descobri coisas ótimas lá... Experimentei sensações que foram singulares na minha vida profissional. Acredito que isso se deu ao fato de eu ter me deixado levar um pouco mais pelo emocional, não que isso tenha definitivamente interferido no meu trabalho, mas tive um prazer diferente em ir à escola.
Sei que na minha profissão é muito pouco provável que um jovem passional se dê muito certo, enfrentei vários problemas por isso. Mas acontece que mesmo assim sou humano e jovem. Apesar de meu quarto de século de existência, acredito que tenho muito a conhecer sobre mim mesmo. Neste último ano vi que posso ser muito sociável, que não faz sentido me manter isolado e de cara fechada, vi que não sou tão sisudo como pensava, posso fazer coisas loucas também.
Enfim, tudo o que se deu em 2010 para mim não pode ser descrito em um texto somente, me referi aqui apenas aos acontecimentos referentes aos meus novos amigos, alunos e ex-alunos. Também passei por alguns outros dilemas de ordem pessoal, dilemas que me jogaram a polos existenciais de forma que eu não soube me conduzir novamente ao meu eixo. Simplesmente me deixei levar.
Contudo, a dialética se fez mais presente na minha vida este ano, e aprendi o seu valor. Agradeço a meus alunos e ex-alunos por isso. Àqueles que vão seguir suas carreiras, que sejam brilhantes como me mostraram ser. Aos que vão continuar esta jornada, sigam firmes e atentos às coisas que são realmente relevantes, mas não deixem de desfrutar de suas juventudes.
Agradeço a todos meus amigos por me darem a oportunidade de estar com vocês.