domingo, 18 de agosto de 2013

Sarah

Jeito colorido indesbotável.
Bipolar, mas estável.
Gente fina, confiável,
Abusada, incontrolável,
Carinhosa, sensível,
Baixinha, comível,
Amiga inesquecível,
Diferente, indescritível,
Idealista, incorrompível,
Extremista, plausível,
Inteligente, incrível,
Popular, mas verossímil,
Minha monstra infalível,

Minha cara, minha Sarah, meu kharma.

Ardor

Desde o princípio divergia,
Sua concepção já previa
Que muito não ia significar.

Mas teimou em vivo permanecer
Coisas novas quis aprender
Menos de seu destino se desvencilhar.

Com o vento na cara, enfrentou
Nunca jamais recuou,
Apesar de nunca parar de reclamar.

Sua missão não era a mais difícil,
Mas suas fases eram rápidas como um míssil
e por fraqueza não podia acompanhar.

Apesar de todo falso aprendizado
Tudo aquilo que lhe foi ensinado
De nada podia ajudar.

Tinha um caráter de guerreiro
nas decisivas era o primeiro,
mas o último a ganhar.

Galopava, em sua mente,
E em seu coração brotava uma semente
Que um dia iria germinar.
De que tudo seria um dia exposto
E que todo seu desgosto
Finalmente iria se explicar.

Tudo que era inaceitável,
Se tornaria mais palpável
Para quem sabe um dia poder espalhar.

Que estava certo desde o princípio
Quando sua vida flexionou lhe no particípio
O maldito verbo entediar

E agora vai escrevendo,
Para o tédio ir desfazendo,

E sua moral matar.

ENTENdendo o DIARio

Desde o princípio divergia,
Sua concepção já previa
Que muito não ia significar.

Mas teimou em vivo permanecer
Coisas novas quis aprender
Menos de seu destino se desvencilhar.

Com o vento na cara, enfrentou
Nunca jamais recuou,
Apesar de nunca parar de reclamar.

Sua missão não era a mais difícil,
Mas suas fases eram rápidas como um míssil
e por fraqueza não podia acompanhar.

Apesar de todo falso aprendizado
Tudo aquilo que lhe foi ensinado
De nada podia ajudar.

Tinha um caráter de guerreiro
nas decisivas era o primeiro,
mas o último a ganhar.

Galopava, em sua mente,
E em seu coração brotava uma semente
Que um dia iria germinar.
De que tudo seria um dia exposto
E que todo seu desgosto
Finalmente iria se explicar.

Tudo que era inaceitável,
Se tornaria mais palpável
Para quem sabe um dia poder espalhar.

Que estava certo desde o princípio
Quando sua vida flexionou lhe no particípio
O maldito verbo entediar

E agora vai escrevendo,
Para o tédio ir desfazendo,

E sua moral matar.

Vaidade

Quando estou escrevendo sinto que vou me despindo
E aos poucos o leitor desatento vai interagindo
Com a minha estranha forma de pensar.

Já que acredito que o pensamento descreve,
Apresento o corpo e alma de quem escreve
Letras ruins e sem sentido.

Como algo formalmente desformado,
Que já foi, um dia longe no passado,

Algo bonito de se ver. 

Tudo poesia

Acredito que hoje tudo pode virar poesia.
Desde a tosca letra de uma canção,
Até, de amor, uma declaração.

Se é verdade que há sentimento.
Não deve fugir do pensamento,
A vontade de escrever.

E como nem tudo tem um padrão,
Eu vejo agora neste momento,
Que não há razão para crer

Em algo que surge da noite para o dia.

Contudo, não faço poema

Já que na prosa acho meu pensamento não quer sair,
Vou fazendo versos soltos por aí,
Para que de meus delírios possa me curar.

E com linhas feias e sem sentido,
Vou tecendo meu novo abrigo,
Para sentimentos que não têm lugar.

Isso que eu faço não tem cor,
Muito menos algum bom sabor,
Só palavras largadas querendo rimar.

Para que, quem sabe nessa vida,
Onde quase toda palavra que é escrita,
Um leitor qualquer deve encontrar.

Eu seja percebido, não pela estética,
Ou pela minha falta de ética,

Mas pela tosca forma me pensar.

Perder

Perco-me quando,
em seus grandes olhos negros,
tento me buscar

afundo-me cada vez mais,
quando em teu coração,
percebo não ter lugar.

Sei que de fato,
esse amor impossível,
nunca vai se realizar

Mas conto as horas,
Todas as noites,
Para te encontrar

E poder,
Quem sabe um dia,
Poder te falar.

Que entendo,
Que sei o motivo,
Para você se afastar

Que não adianta
Eu ficar aqui sentado
A te esperar.

E que esse vazio,
Um dia,
Vai me matar.

Mas em suas lembranças,
Para sempre,
Espero morar.

E então,
Aos poucos,
Vou me encontrar.

Sempre perto,
Bem perto,
do seu sonhar.

O que para mim,
Bem pouquinho,
Já vai ser conquistar.

Aquilo que qualquer um,
Em vida,
Deseja encontrar.

Impreterivelmente

Impreterivelmente preciso de você!
Não importa a forma, o momento é que chama,
Por sua paz minha alma clama,
Somente em seus olhos posso adormecer.

Quando chegares pronto estarei,
Mas não demore, chegue antes da aurora!
Em seus braços, minha dor não mora
Somente a felicidade encontrarei

E se caso estiver a me enganar
Que eu não saiba quando essa hora vai chegar

Pois sem fim será o meu tormento.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Quando o dia passa a ter menos horas do que coisas para se fazer é hora de pensar o que está acontecendo de errado. Se sua paixão (não me refiro aqui à pessoas) já não é mais o motivo para que continue andando você tem um problema e precisa dar um jeito nisso! Você não é uma máquina, tem sentimentos e principalmente sentidos que devem ser respeitados e priorizados. Não se mate no trabalho para não se matar de verdade, porque assim mesmo você estará se matando. Tire um tempo para suas amizades, mesmo que não estejam próximas o suficiente para te ajudar, e para suas atividades preferidas. Faça um esporte, ele libera mais coisas boas do que o trabalho exagerado ou excesso de responsabilidades. Caso você não tenha escolhas e precise mesmo trabalhar bastante porque, como diz, está “reconstruindo sua vida” (aff) organize-se e estude para passar em um concurso público que te dará dinheiro e poucas preocupações. Já que você é uma pessoa tão inteligente. Lembre do seu primo que hoje ganha quase vinte mil reais por mês para trabalhar 4 horas diárias, ele que teve a vida toda livre de preocupações pois não trabalhava, mas estudava bastante. Ele se encaixou com o pensamento adequado e hoje tem uma vida estabilizada financeiramente mesmo depois de sobreviver a uma tentativa de suicídio por estar deprimido. O que importa é que você tenha uma vida para servir de exemplo para os outros. Que todos queiram ser tão atlético e inteligente como você. Nossa, estou me perdendo no tema do monólogo! Talvez porque este tema já esteja assim demais para seguir uma linha.
Com este novo parágrafo vou me recuperar. Espero que você também, que deve seguir padrões rígidos, que deve ir ao ataque de oportunidades que te elevem socialmente. Porque afinal se há algo errado é que você está mal preparado, mal organizado. Pare de reclamar e siga sua vida só! Ninguém merece saber dos seus problemas só dos seus sucessos. Seja verdadeiro quando for conveniente apenas! Não se esqueça disso ou sua popularidade vai diminuir se for chato!

Depois de muito tempo resolvi retornar às trilhas das letras. De fato escrever é algo que gosto, mas de alguma forma minha preguiça me deixa longe das palavras. De fato tenho, neste tempo todo, pensado em ótimas coisas para escrever, inspiração não me faltou. Não mesmo.  Só faltou energia. Passei por muitas coisas boas e ruins neste tempo. Sim, coisas boas também consomem energia quando você quer aproveitá-las ao máximo. Posso dizer que também aproveitei ao máximo coisas tensas, tristezas profundas, mágoas que não sei se superei ou vou superar, mas é melhor aprender a conviver com elas. Um ciclo está a poucos dias de se fechar, hora de fazer novos planos, e de focar em novas conquistas. Por hora só quero que 2013 não termine como 2012, quero melhor, muito melhor. Entendo que pode ser pior, mas vou fazer o que passou de aprendizado e evitar que as coisas cheguem a este ponto novamente.
Não é um esforço para mim voltar a escrever, na verdade só precisava de vergonha na cara. Mesmo que não tenha tantos leitores, talvez menos, bem menos que antes, vou voltar a escrever. Como sempre não prometo regularidade, mas alguma qualidade sim. Hoje pode parecer antiquado escrever em um blog como este se há o facebook, mas vou, de alguma maneira que ainda não sei qual, deixar a isca lá, quem quiser que venha e leia, comente, deixe opiniões ou sugestões. Afinal, ninguém escreve para não ser lido. E quando falo ser lido é para ser nos dois sentidos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Bar


Ele está sentado no bar. Toma o terceiro copo de cerveja, já tomou duas garrafas no outro bar antes de ser expulso. Acena para o garçom, mostra sua credencial. Isto é o suficiente para ter tudo o que deseja. Ainda está tentando chamar a atenção da garota de vestido branco e preto sentada com uns amigos atrás das mesas de sinuca. São três e meia da madrugada e eles cantam como se estivessem num parque fazendo piquenique ao meio dia. Um deles tem um violão e colabora com os tímpanos de todos presentes que não agüentam mais tanta gritaria por parte daqueles que discutem suas táticas de bilhar.
Meu alvo está se movendo, vai ao banheiro. Não vou segui-lo, não quero ser visto por ele. É fácil saber que ele só quer chamar a atenção da garota. Conseguiu, mas ela parece não querer cair em sua armadilha. A mesma de antes.
Ele a espera no banheiro e volta alguns minutos sabendo que ela não cairá em seu golpe. Sabe que precisará de mais lucidez. Agora vai ter que ser mais habilidoso para conseguir sua presa. Volta ao balcão e pede água. Bebe dois copos como se fosse um refugiado que acaba de chegar do deserto. Quero que ele saia logo, não quero ser visto por ninguém, ou teria feito meu serviço ali mesmo, no banheiro.
O rapaz do violão começa a tocar mais alto. Agora já é quase impossível ouvir a voz dos competidores de taco na mão. De fato eles estão prestando atenção na música. Música boa. Meu alvo observa a garota de vestido branco e preto como se fosse um caçador. Não tira os olhos dela nem mesmo quando toma água. Está vidrado. Parece que ele não sairá dali antes dela. Mas sua bexiga não aguenta e volta ao banheiro. Desisto de ser tão sutil, vou fazer agora o que vim fazer antes, sei que ele estará com a guarda baixa. Quem muito quer atacar uma alvo se esquece de defender-se, principalmente quando se sente tão superior. Ele pensa não cometer erros. Coitado, sua hora chegou, vai sofrer o que Lea também sofreu, mas sua dívida só será paga no inferno.
Todos estão olhando para o rapaz tocando sua bela música. Sigo meu alvo de perto, não o tiro de vista enquanto serpenteia entre os que estão no caminho. Ele entra no corredor que dá acesso ao banheiro, lá vejo uma das garotas que estavam no grupo da garota do vestido branco e preto. Ela saiu de uma porta logo após a passagem do meu alvo e agora na minha frente, me bloqueia a passagem, tenta me seduzir e seu perfume realmente é capaz disto. Pergunta pela minha pressa, ainda posso ouvir a música no salão, todos estavam hipnotizados por ela, mas eu não, eu tinha um objetivo.
A garota de perfume mágico tenta me segurar e de alguma forma consegue. Perdi meu alvo, perdi minha vingança por causa dela. Estou preso na parede ela me olha nos olhos enquanto seu aroma penetra minhas narinas e paralisa todo meu corpo. Ao fundo vejo a garota do vestido branco e preto sair da mesma cabine mictória que meu alvo havia entrado há pouco, mas ela estava diferente, na verdade seu vestido está diferente. Agora seu vestido é vermelho e preto. Um vermelho quase vivo. Sua pele está limpa, branca e fria como gelo. Passa por sua amiga e diz que já está feito. Sua amiga, de perfume mágico, diz que eu estou cheio e sai. A garota de vestido vermelho e preto achou isto perfeito e também sai. Estou livre para seguir em frente com o meu plano.
Ando pelo corredor com medo, dúvida, ódio e tédio no estômago. Isto tudo junto faz muito mal e por isso estou tão pesado. Sinto o assoalho afundando a cada passo que dou. Minhas mãos tremem antes de entrar na cabine mictória do meu alvo. Começo a me perguntar o que havia acontecido instantes antes, quando a garota que mudara de vestido estava aqui dentro ainda. Penso que isso era besteira e sigo em frente. Estou a duas portas da cabine-alvo, agora não posso mais recuar. Não tenho plano de fuga. Abri a porta da cabine com violência assim que me deparei em frente a ela. Como um tubarão desliguei meus sentidos principais apenas foquei-me em meu alvo. Retirei da cintura minha faca de caça, presente de natal que ganhei dela. Esfaqueei-o várias vezes. Meu objetivo estava alcançado, agora comecei a retomar meus sentidos. Não entendo o que vejo. Sem nenhuma reação ele aceitou meus golpes. Sou um assassino. Matei a sangue frio, ou não. Logo pessoas me encontram debruçado sobre o cadáver procurando uma explicação. Minha consciência volta e fico ainda mais confuso. Sou assassino, ou não? Para o público que saíra do transe musical sim, mas para mim? Minha alma está suja pelo desejo de ter matado, mas matei? Minhas mãos estão sujas de sangue, isso é tudo. O grupo de amigos que estava sentado atrás das mesas de sinuca desapareceu. Ninguém viu, só eu.

Le grand ennui


Há algum tempo venho tentando escrever algo para postar aqui, de fato isto tem me chateado bastante, pois não tenho obtido sucesso. Desde o meu acidente apenas postei um texto/mensagem e nada mais. Inventei várias desculpas a meus amigos que me perguntavam o motivo, mas nunca tive coragem de admitir meu fracasso na luta contra certas forças ocultas que imperam sobre meu ser fragilizado pelo tédio. Entreguei-me totalmente a uma rotina de ócio. Aqueles que mais de perto me acompanham têm ouvido de mim apenas o velho mantra entediante de uma pessoa que não pode fazer mais o que estava acostumado e o que deseja. Apesar de ter sofrido apenas uma fratura em minha perna esquerda, tenho vivido os meus dias como se algo muito mais importante tenha se ido ao chão junto do meu corpo naquela sexta-feira.
Não posso falar que só coisas ruins tenham acontecido comigo. Agora que recebi um certo impulso para começar a escrever seria desprezível da minha parte ficar lamentando apenas. Esses dias de clausura foram bastante úteis para mim, na verdade estão servindo como nenhum outro período da minha vida. Começo a acreditar naqueles ditados que falam sobre tirar algum tempo para refletir na vida e tal. De fato neste mês e meio abri meus olhos para várias coisas que andava fazendo errado. Descobri que estava confundindo muito meus colegas com amigos. Fui roubado e não posso falar que não suspeito de alguém acima de qualquer suspeita. Percebi como sinto falta dos meus amigos de verdade por perto e estou tendo uma visão mais clara de como eles estão se afastando de mim, e a culpa pode ser minha.
No meio de toda bagunça que tem acontecido, que não posso falar tudo ou minha pouca moral se esvairá com o vento pela janela aberta mais próxima de quem ler isto, encontrei uma pessoa que me fez reconhecer alguns valores que de fato os conhecia, mas fingia que fossem impossíveis para mim. Mudei-me para esta cidade por dois simples motivos: trabalho e independência. Sei que na verdade eles se completam, mas são nobres demais e por isso devem ser vistos separados. Mas nesta cidade encontrei mais do que isso. Encontrei uma pessoa que muito me tem ajudado. Não vou ficar horas escrevendo coisas que não façam sentido para ninguém a não ser para mim, só devo expressar o quanto me sinto grato por encontrar uma nova definição de amor com ela.
Assim, contudo, devo dizer que nestes entediantes 48 dias desde a queda coisas terríveis tenham me acontecido. Meu corpo tem sido um campo de testes para pragas, pois não tenho apenas a perna quebrada. Um tipo de alergia não identificada anda consumindo parte da minha pele. Também tenho enfrentado resfriados que parecem ter saído de meus pesadelos. Estes são meus companheiros noturnos que estão conseguindo levar a minha saúde mental para o mesmo lado da corporal. Chega de lamentar sobre tudo isso. Não entendo que aceitando estar na merda vou parar de reclamar, só estarei reclamando com menos ódio. Afinal estou entediado demais para isso.
(acabo de entender o porquê dos velhos decrépitos serem tão ranzinzas)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Secretum invenit




Ei! eu preciso te contar meus segredos, pois eles devem deixar de ser segredos, uma vez que eles ocupam muito espaço e quero este para guardar meus sonhos. Vou contá-los também, para ti, porque sinto uma necessidade absurda de dividir minhas experiências contigo. Não me faça passar por louco, não sou mesmo. Sou uma pessoa que sente muito a tua falta. Isso não é pecado, na verdade é uma obrigação. Mas atenção, antes de começar a expor minha vida e meus pensamentos, que podem ser a mesma coisa, peço-te que feche bem a porta, para que se ficar entediada tenha ainda que parar e pensar antes de sair do quarto.
Como sabes me mudei para outra vila. Aqui os camponeses são diferentes com regras sociais diferentes. Tu sabes que gosto de conhecer novos mundos, neste caso o que mais tenho aprendido é como dois mundos tão próximos podem ser tão diferentes. Aqui estou mais independente, para falar a verdade estou isolado, para sobreviver bem tive que me misturar, acabei me colocando em situações onde tive que me associar a outras pessoas, sabia que isso aconteceria, mas não imaginava a intensidade. Hoje estou, de fato, sendo apoiado e fazendo parte de um novo clã, no entanto estes não sabem nem nunca saberão a importância de vós. Não faço isso porque eles não merecem, de fato, hoje ensaio um amor conjugal, lindo e cheio de virtudes onde cada dia é um alegre recomeço e cheio de surpresas que me fazem sentir-me repleto de felicidades domesticadas. Faço isso porque sou egoísta e não quero dividir com mais ninguém as glórias alcançadas na temporada passada enquanto estava convosco.
Uma mudança importante aconteceu recentemente em minha vida, troquei meu cavalo, agora estou com um mais potente e que não exige mais tanto esforço da minha parte quanto o outro. É claro que troquei apenas um deles, mantenho ainda alguns para lazer assim que me recuperar. Sofri um pequeno acidente com meu novo alazão, por ser mais potente e rápido ainda não o consegui domar com tanta maestria como fiz com os outros, minhas habilidades devem ainda ser aprimoradas para este novo tipo de montaria. Estou superando o velo trauma por carruagens, poso até dizer que ele já faz parte do passado.
De fato, não são apenas os meus relacionamentos e montarias que estão se transformando aqui nesta vila, também meus planos. Começo a planejar o futuro diferentemente de quando estava aí, mas, é claro, levo sempre nas lembranças nossos momentos juntos. Ainda sinto por vós carinho extenso, lembro-me de quando dizia que não desejava muito voltar a mudar-me para cá, colocaste que por conta do meu signo que não é adepto a mudanças, concordo, mas ainda mais por fato de que aqui nesta terra as obrigações andam a devorar-me o que tinha de mais valioso, o tempo, de maneira a não me fazer permitir cumprir minhas promessas de reencontro. Isto fere-me na alma. Contudo, apesar de não postar aqui já a algum tempo, desejo de fato que este seja o nosso ambiente comum, onde possamos saber mais um do outro, eu neste sítio e tu no teu. Leremos um ao outro como se o mundo não mais existisse, apenas nossas lembranças e planos.
Sabeis pois que meus sentimentos por você ainda são tão grandes como o mar que não tem fim e fortes como o ciclone que não se tem como deter, amo-te um amor pueril, fraterno, indefectível. Jamais a esquecerei. Desejo, também, saber de sua vida e de teus planos.

domingo, 20 de março de 2011

Murs




Ele queria viajar para a longe desde cedo. Europa, Ásia, América do norte, Oceania ou África eram seus destinos futuros quando criança. Sabia que seu destino era viajar para longe dalí, só  não sabia o porquê. Quando criança, ainda, seus amigos o chamavam de louco, e como crianças que também eram, faziam coisas cruéis a ele. Sua resposta às agressões físicas e morais era sempre a mesma: silêncio, e cada vez mais vontade de largar toda aquela escória. Viveu assim por muito tempo. Para a maioria das pessoas a fase de transformações e conflitos é a adolescência, não para ele. Sua pior fase sem dúvida foi a infância. Naquele período era indefeso e só. Não era assim tão desprotegido porque de fato as pessoas lhe davam as costas, mas era assim por que não aceitava a ajuda de ninguém. As pessoas o enfraqueciam.
Quando chegou à puberdade e seus colegas começavam a ensaiar a vida amorosa, partindo pelas fantasias sexuais, seus traços de personalidade ficaram mais evidentes. Sua isolação era visceral, não aceitaria que qualquer pessoa se aproximasse. Caso contrário seria ríspido, pois havia sobre ele uma espécie de barreira que impediria qualquer avanço pessoal. Mas nesta fase, os hormônios contrariaram sua natureza pessoal. Passou a se incomodar por não ser observado. E isso se deu por conta de uma pessoa em especial. Essa fatalidade do destino fez com que suas defesas abaixassem e permitissem que outros seres penetrassem em sua carapaça invisível. Era esperto. Sabia que em uma boa pescaria era necessário capturar todo o cardume para que o peixe tão desejado caísse em sua rede. Só não sabia ele o que fazer depois. Não foi preciso descobrir o que fazer, pois jamais capturara sua presa, só o cardume.
Esse fato de deixar cair as defesas o deixou imune às aproximações indesejadas. Levou tudo numa boa, foi falso como pode. Até gostou disso. E assim que se percebeu, estava perdido sem seus planos de infância. A Europa, Ásia, África, Oceania e América do norte estavam muito distantes. Seus olhos já não alcançavam mais. Estava se conformando com sua vida recheada de pessoas que não o compreendiam. Pessoas que o julgavam por valores que desconhecia. E agora desprovido de sonhos, buscava adaptar-se. Morria lentamente para promover um renascimento sem sentido.
Sua adolescência também foi uma fase de transtornos. Diferente da maioria dos seres que conhecia, aprendera algo neste processo. Não teve ajuda e passou por transformações realmente profundas. Isso influencia em sua visão de mundo atual. Não entende certos valores que a sociedade tem. Será eternamente marcado por ter se exilado quando criança. Essa mutilação deixou marcas piores que as causadas por acidentes físicos que sofrera. Está eternamente deformado. Seus valores não se encaixam e cada vez mais isso o atormenta, pois precisa adequar-se. E isso gera nós em sua cabeça.
Seu equilíbrio está alterado, sua debilidade é crônica. Não tem consciência disso. É impossível ter noção do quanto é deslocado. Apenas sente os efeitos dessa estranha realidade que o cerca, contrastando com a que ele enxerga. Sabe, portanto que algo está errado, principalmente quando freqüenta ambientes onde é comum a troca daquilo que de fato desconhece o sentido. Mas comporta-se como se fosse um dos quais. Não sabe ao certo se todos estão fingindo como ele ou se de fato gostam daquela palhaçada. Finge gostar sem saber exatamente o porquê. Talvez goste de testar os limites de sua paciência ou alguns elementos daquilo tudo o agradam. Talvez apenas repita o mesmo erro cometido quando entrara em sua fase adolescente.
Acontece que para ele é muito complicado entender como as pessoas podem desenhar suas vidas com tanta facilidade. Será que realmente elas conseguem fazer isso, ou estão apenas  mentindo. Quando pensa nisso lembra-se de como era agradável permanecer entre suas paredes imaginárias, não se importando com o mundo que o cercava. Levando uma vida onde a observação despretensiosa era toda a que tinha. Hoje, viciado em ser social, sofre, ainda calado, mas já beira o seu limite. Sente falta do não sentir de antes. Lembra que está experimentando emoções muito facilmente descartáveis, e não sabe digerir as coisas assim tão rápido. Relembra que naquele momento em que se abriu pela primeira vez sua obnubilação o trancou para o lado de fora das paredes invisíveis e agora fica muito difícil achar a entrada.
De fato ele ainda busca aquelas viagens de antes, mas agora de maneiras diferentes. Obrigações entraram em seu caminho. Nada é mais tão simples. Agora ele deve lidar com números de pessoas muito maiores que antes. Deve tomar cuidado para que seus sonhos não o devorem ainda de dia. E se esforça bastante para não deixar a caixa se abrir completamente.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Já chega!



Por que afinal a humanidade restringe tanto o direito de cultivar o prazer? Acredito que em algum país de cultura muito distante deva existir uma sociedade em que os homens e mulheres sejam dotados do poder de levar suas vidas livremente, sem as tolices sacerdotais dos deveres sociais. Como pode ser tão difícil estar próximo de sua realização profissional ou pessoal e ter tempo para desfrutar das duas? Estou bem longe delas, mas sinto que vivo em um túnel de sentido único onde não se pode ficar parado e caso queria serei esmagado por todos ao meu redor. Faço as coisas visando meu bem estar pessoal, mas cada vez mais que o procuro sofro pressão por não estar buscando sucesso profissional. Isso é tão tautológico, porque afinal nunca alcançaremos o último degrau desta escalada social infindável e enquanto humanos precisamos de diversão.
A busca por objetivos tem se confundido com competição. O alvo do homem não é mais ter uma bela casa, bela esposa (como se mulheres fossem objetos), belo emprego e porte físico atlético. Agora o homem busca ter o que pertence ao outro, ou melhor, busca ter algo melhor do que o outro. Não entendo a realidade feminina, mas não duvido que seja muito diferente. Estamos desperdiçando um tempo enorme movendo essa máquina capitalista enquanto perdemos as belas coisas que a natureza tem para nos oferecer. Até a humanidade tem muito mais a oferecer do que temos buscado aproveitar.
Poucos sabem realmente quais são os seus potenciais, pois buscam realizar o sonho de consumo dos pais. Pessoas que precisam se submeter a condições de trabalho desumanas para sobreviver, já que a ordem dos seus patrões é para que se trabalhe um pouquinho além do que já trabalha para conseguir aquele cargo superior e manter a cadência exploratória. Não falo em volta à era tribal, onde os homens se ajudavam e viviam sem nenhum conforto. Refiro-me a uma ideologia de respeito às leis humanas sobre a preservação do que resta de natureza dentro de nós.
A humanidade evoluiu ao ponto de digerir a ela própria e marginalizar seus excrementos, assim vive em uma latrina asquerosa chamada cidade grande. O capitalismo foi o grande responsável por isso. Doença viral surgiu como uma solução a outra situação degradante, mas com o passar do tempo se tornou força dominante, responsável por conflitos separatistas dos mais diversos propagando o preconceito e a intolerância. Estamos chegando a uma nova fase de deterioração humana, agora é hora de olharmos para o planeta e para as coisas viventes, mas não sem antes procurarmos nossas necessidades pessoais.
É comprovado pelo sorriso de uma criança que uma tarde no parque, no rio, na praia, na fazenda ou em qualquer lugar em que se tenha natureza faz bem. Também sei que projetos culturais como idas ao cinema, teatro ou shows musicais fazem efeito positivo à qualidade de vida. Depende mais de como as pessoas encaram as responsabilidades do que como as responsabilidades encaram as pessoas para se ter um bom padrão social. Não digo que seja necessário esquecer-se das dívidas, trabalhos e afins, mas que é importante saber que tudo o que precisamos é de uma vida mais simples para termos tranqüilidade e paz. Afinal devemos nos preocupar mesmo é com nossa mente e com nosso corpo, não nos aposentaremos deles enquanto estivermos por aqui.

Incurable



Johann tinha 19 anos quando seu ferimento começou a dar sinais de existência. Como era jovem pensou que um machucado daqueles não seria nada tão grave. Continuava a fazer as coisas que fazia sempre sem reparar como a ferida evoluía. Uma vez quando começou a doer ele deixou de tocá-la, sua forma de cuidar. Não durou muito e ela começou a inflamar. Teve que tratar. Buscou ajuda e descobriu o melhor jeito de cuidar dela. Começou a tratar dela. Pare ele seria uma experiência nova e um pouco dolorida.
Era muito jovem para ficar preso a algo assim por tanto tempo e logo tratou de livrar-se, mas não sem antes cometer certas displicências, as quais o farão ficar muito arrependido mais tarde. Ficou livre dos medicamentos já que a “pereba” estava indolor. Passou a desprezar o tratamento e ficou assim por alguns meses até que a ferida voltasse a doer. Buscou o remédio, mas desta vez não queria o mesmo cuidado. No entanto, depois de algum tempo percebeu que já podia viver tranquilamente, pois já teria assumido sua condição. Pensava que quando fosse necessário era só buscar o caminho de sempre. Deixou então os cuidados e foi aventurar-se por ai.
Passou bem por um ano, até perceber que seu pequeno machucado, de quando tinha 19 anos, evoluíra a algum tipo de doença agora. Sabe que só tem um tratamento para aliviar as dores pelo corpo. Tentou reaver o processo medicinal, sem sucesso, pois o mesmo já estava indisponível. Passou mal e tentou lidar com isso com métodos nada ortodoxos. Buscou isolamento para não contagiar alguém. Acabou se ferindo mais e seu estado ficou digno de pena, mesmo que não deixasse que percebesse seu real estado.
Mas Johann é forte e com o tempo percebeu que pode viver com essa doença. Ele conseguiu estabilizá-la a base de preparo físico e muito trabalho. Foi se adaptando e criou um tipo de resistência a suas dores. Isso não foi fácil, mas já conseguia sair e se divertir como antes. Sua cura não era possível sem o tratamento adequado, mas sua recente força de vontade devido a uns medicamentos alternativos o fez bem.
Pena que ninguém sabe como lidar com ele. E às vezes pessoas muito próximas acabam fazendo-o sofrer quando mostram sua ferida, e pior, metem mesmo o dedo mostrando que ele deve cuidar dela. Mas o grande problema é que para isso medidas dolorosas deverão ser tomadas, e ninguém exceto ele sabe o quanto isso pode ser doloroso. Ele deseja que as pessoas passem a cuidar de seus próprios cânceres.

Alto do delírio II


Recentemente postei aqui no blog que tinha feito uma trilha bem legal, que tinha visto um espetáculo de beleza natural no “Alto do delírio”, pois bem, disse que voltaria lá em breve e tiraria fotos. De fato não queria ter ido lá ontem, fui porque infelizmente algumas coisas não saíram como planejadas e... Mas o que importa é que fui lá e tirei algumas fotos, poucas, mas podem ser vistas no link abaixo.


Para quem quiser ir ver pessoalmente já informo logo que é preciso ter fôlego.

O drama de Alphonse



Alphonse é um homem metódico. Tem o costume de planejar tudo em sua vida, até as coisas mais triviais. Mesmo que não pareça, ele tem tudo sobre controle, ou pelo menos pensa ter. Conhece todos os seus amigos muito bem. E os divide em grupos, teme que se encontrem e se misturem. Sabe que caso isso aconteça ele vai ter muito trabalho mental definindo-os por afinidade e não por habilidades, como faz agora. Sua vida é tranqüila e programada. Sabe quando pode fazer as coisas e o que vai acontecer se ignorar algum detalhe. Às vezes, só para ter alguma surpresa proposital, deixa de fazer algo ou faz fora de hora. Os resultados destas traquinagens com seu planejamento o faz preparar-se para possíveis arbitrariedades esperadas para o futuro.
Não pense que ele não pode ser espontâneo. Engana-se quem pensa isso. O problema é que isso acontece apenas quando ele pode ser assim. Sempre que sente a necessidade de fazer alguma loucura procura uma boa ocasião em sua agenda e se prepara bem para isso. Sabe direitinho que tipo de espontaneidade pode praticar e saberá que está bem preservado. Na maioria das vezes ele planeja algo para si. Dificilmente envolve outras pessoas em suas programações, sabe o quanto são difíceis de organizar. Entende que pessoas são como variáveis matemáticas de fórmulas ainda não estabelecidas. Variáveis que dependem de muitas variáveis.
Uma bela tarde, observando a chuva e conjecturando junto aos seus botões como essa assimetria toda era desastrosa, Alphonse resolve projetar uma experiência. Verifica que para a chuva cair líquida depende de muitos fatores diferentes e que muitas forças diferentes são empregadas em todas as transformações e transporte das moléculas de água. Resolve então juntar elementos diferentes de sua vida. Sabe que boa parte destes elementos nem eram tão distantes, faz isso para não provocar um desastre. Planeja tudo muito bem, faz contatos, recorre a pessoas do passado somente para levar seu plano à frente. No fim se ocupa tanto com as árduas tarefas diplomáticas que em duas semanas tudo já estava acertado. O mais difícil era conseguir as máquinas humanas, mas isso estava garantido por palavras. Ele não confiava muito em palavras ditas, mas confiava que todas as pessoas tivessem seu mesmo comprometimento com elas.
Passado um mês tudo ainda estava em ordem para seu plano. As palavras firmavam-se no ar que saía da boca das pessoas com quem contava. Ele lembrava que agora faltava pouco para a culminância de seu projeto. Mas algo o afligia, talvez fosse a força das vozes de seus elementos recrutados esvaindo-se. Resolveu então checar os cabos que davam sustentação ao seu plano que era mais que um sonho. Neste momento repara que estão afrouxando e não trem ponto de nó. Então os deixa ir e concentra energias fortificando os restantes mais rígidos e confiantes. Logo ganha outros apoios inesperados. Algo está indo mal. Não gosta de surpresas que não foram planejadas, mas aceita.
Mal sabia ele que esse era o mesmo apoio que ceifaria suas esperanças na raça humana para projetos tão bem cuidados. Ele devia ter obrigado seus elementos a registrarem suas palavras em papel que pode ser cuidadosamente arquivado e não no ar que vira vento. Como seu instinto supôs aquele apoio surpresa não foi boa coisa. Ele trouxe o elemento que move as pessoas, o dinheiro. Agora ele perdeu seus elementos, pois não eram tão covalentes assim e dissiparam-se apenas com o esforço o oferecimento material. Entendeu então que sua experiência chegara a algum resultado.
Ele entendeu que planejar algo real sobre coisas resultantes de emoções não funciona. Entendeu que levar a sério palavras jogadas para seu agrado como farelo de pão aos peixes também não era certo. Entendeu que por mais forte e transcendental que sejam as idéias elas se dissolvem inertes aos caprichos materiais proporcionados pela efemeridade de uns poucos recursos financeiros. Por fim entendeu que não se deve competir com a ambição humana, pois ela é muito forte e o pobre Alphonse ainda não tem condições de competir contra.
De fato Alphonse conseguiu mais uma vez. Fez uma experiência e como programado acabou aprendendo algo. Saiu ileso do que seria para qualquer outra pessoa motivo para gerar rancor ou decepção. Felizmente ele sabia que em pessoas não se deve investir nenhum sonho de tanto valor. Só coisas efêmeras sobre coisas efêmeras. Pessoas são movidas por impulsos materiais, por isso são tão infelizes. Ele espera sair logo deste inferno.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Idiossincrasia



Passava na frente daquela casa todo dia e sempre quis saber o que havia La dentro. Naquela manhã após desligar-se das coisas que já não faziam sentido para ele, resolveu entrar. Não havia nada de diferente no céu. Tudo normal como em um amanhecer de verão. A única coisa diferente naquele dia era a porta da casa aberta. Ele é curioso e por isso resolveu entrar. Também é inocente e não sabe que às vezes é necessário deixar as portas abertas para deixar o ar fluir. Mesmo quando o vazio é a única coisa que se diz existir naquele lugar.
Ao entrar naquela casa, que por fora lhe chamava a atenção por ser linda e bem detalhada. Sentiu-se como um peixe fisgado pelo anzol ou um pássaro a caminho da arapuca. Mesmo assim continuou sua exploração. Sua razão sabia que não era para ele estar ali, mas depois de passar pela porta principal viu uma escadaria improvável. Acessava os quartos enquanto passeava pelas memórias registradas nas gravuras fixadas pelas paredes. O tapete que cobria os degraus faziam se passar por teclas de um piano embalado pela música de Wagner. As janelas estavam cobertas por tecidos pouco translúcidos que deixavam a luminosidade interior apenas suficiente para não se tropeçar em seus pensamentos confusos. Entretanto, os móveis pareciam ter luz própria. Era fácil navegar por dentro daquele ambiente.
Ele é acostumado a confusões. Mas ao entrar naquela casa percebia o quão normal sua vida era. A casa, como disse, estava deserta. A casa era mesmo assim limpa e com o ar respirável. Mesmo assim não respirava. Pelo menos até o momento em que resolveu subir as escadas. O primeiro lance o levou por entre campos e cidades desconhecidas, mas que já ouvira falar. Cenários parecidos com os seus em tempos infantis. Lá reconheceu suas experiências e pensou que se daria bem naquela exploração. Seu pensamento era singelo e por isso imaginava muito além do que devia.
Quando chegou ao andar superior olhou para cima e viu que entrar ali não teria sido boa coisa. Viu a porta por onde entrara aberta. Ficou curioso como era possível. Explorou o quarto de adolescente que cheirava a morango que estava a sua frente. Entrou no closet arrumado e se perdeu lá dentro entre as calças que deviam ser apertadas e as blusinhas sem mangas. Percebeu então que não sairia de lá, estava em uma espécie de jardim onde as árvores cresciam sem poda e estavam se formando como uma floresta fechada. Resolveu sair depressa e tropeçou no abajur que estava perpendicular à cama. Tentou compreender o que acontecia. Desistiu e foi alcançar as escadas. Lá chegando teve que desviar do lustre de cristal que atravancava o caminho pelo teto. Estava pisando o teto, enrugado pelos degraus, como se estivesse no chão. Procurou encontrar uma forma de sair dali. Percebeu que os lances da escada se misturaram enquanto explorava o quarto adolescente. Viu que já estava à tarde e deveria passar pelo quarto adulto com cheiro de canela.
Em tons vermelhos Ferrari, o quarto estava com sua visibilidade interior comprometida pela fumaça de vários cigarros mal apagados pelos cantos como se fossem incenso. Sobre a mesa um livro de Baudelaire aberto chamava a atenção. Aproximou-se para ler alguns versos. “mon esprit humilié/Faire ton lit et ton domaine;/Infâme à Qui je suis lié/Comme le forçat à la chaîne”. Continuava tentando sair dali. Logo desistiria desse plano, acomodara-se. Agora o cheiro era mais sensual. O clima era mais doce e picante. Em seus lábios um gosto azedo se misturava com um toque úmido que não identificava muito bem. Sabia que era divertido. Seu corpo já não mais respondia a estímulos como antes. Agora era mais rápido e intenso. Estava mais guloso. Sabia o que fazer, mas ainda estava preso. Correu para a escada e subiu até cansar-se. Viu que nunca chegaria a uma saída. Já não era mais o mesmo que entrou naquela manhã. Não era mais curioso. Conhecia muito bem onde estava.
Aquelas memórias grudadas nas paredes foram trocadas. Desta vez todas eram bem conhecidas. Muitas eram manipuladas. Ao final do dia ele encontrou uma velha cadeira de balanço. Aquela tranqüilidade passou a ser seu objetivo final. Arrastou-a até uma janela de vidros sujos que dava para a rua. Estava no 3º andar da casa e de lá podia ver no céu as primeiras estrelas da noite. Sabia que havia entrado em um labirinto digno ao de Dédalo. Não sairia de lá vivo. Mas teve uma boa vida ali. Desfrutou de muitas coisas e compartilhou experiências.
A vida lhe era agora algo passado e bem vivido a sua maneira. Voltaria à luz do que reconhecia ser o seu primeiro berço.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Luto



Poucos podem imaginar como foi difícil postar o texto anterior. Poucos realmente podem pensar como foi difícil escrever alguma coisa neste momento infernal. Sinto me atado a escrever algo que não posso, pois não existem termos que possam resumir o valor de uma pessoa. No entanto, sinto que não posso deixar de escrever algo. Hoje/ontem percebi mais uma vez (isso já está ficando repetitivo demais) que a vida é tão passageira. Que de repente nossos amigos se vão e nem nos damos conta. Que quando nos afastamos por causa de nossa “nova rotina” estamos perdendo um tempo valioso que pode nunca mais ser recuperado. Escrevo isso com o coração dilacerado. Não posso dizer que expressão alguma que eu escrever vai demonstrar o que sinto. Também não posso dizer que palavra alguma terá o mérito de contemplar a vida de um amigo que se vai. Não sou arrogante para isso. Mas devo confessar que o medo que sinto é forte e me faz lembrar aquelas palavras tão nobres e repetidas de Vinícius de Moraes que chegam a doer o peito e ferir a alma.
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!